
Amigos visitantes,
Segue abaixo um resumo da minha “trajetória espiritual” até os dias de hoje...
Minha mãe vinha de uma família católica apostólica romana e era, ela mesma, uma praticante regular dessa doutrina; já meu pai, sempre foi um cético em relação à religião, talvez porque sua família não fosse lá tão católica assim. Eu, na infância, convivi com a doutrina e os rituais católicos; fui crismado, fiz primeira comunhão e tive aulas de catecismo na escola; mas apesar dessa inculcação toda, nunca fui um praticante fiel do catolicismo. Às vezes ia à missa, mais para satisfazer minha mãe e minha avó, do que por necessidade interior. Achava tudo aquilo meio distante de mim e sem muita relevância.
Com a adolescência, e talvez devido à rebeldia típica dessa etapa da vida, comecei a perceber certas particularidades dentro do catolicismo, que me pareceram incongruentes e muito contraditórias. Com as primeiras noções de história, analisando a idade média e a colonização das Américas, percebi que o catolicismo para mim, já não fazia nenhum sentido. Nessa mesma época, passei a estudar em uma escola protestante e a freqüentar uma reunião diária de estudos bíblicos; diga-se de passagem, que isto ocorreu mais por interesse em uma menina que ia à mesma reunião, do que por interesse religioso... De qualquer maneira, o protestantismo como doutrina, me parecia mais confiável à época, do que o catolicismo. Mas nunca cheguei a ser devoto de nenhum ramo protestante; ia eventualmente a cultos ou viajava com grupos da escola, não mais que isso.
Ao final da adolescência e início da juventude, mais por curiosidade, comecei a ler clássicos de esquerda: Engels, Lenin, Marx, Mao. Nessa época também entrei na universidade, onde fervilhavam as mais diversas tendências políticas e vivíamos a decadência da ditadura militar. Comecei a militar no PT (o dos “velhos tempos”), e daí a virar “comuna” foi um passo. Comecei comunista clássico, leninista; depois me encantei com o trotskismo. Com o passar dos anos fui simpatizando com idéias de autogestão e um pouco de anarquismo. Desnecessário dizer que virei inimigo declarado de qualquer religião.
Os anos foram se passando e o “materialismo dialético” começou a ser insuficiente para mim; um pouco porque comecei a freqüentar um círculo alternativo, meio “nova era”... Percebi então a espiritualidade como algo manifesto em mim, mas muito atrelado ao meu lado racional e às concepções libertárias pelas quais passei... Nessa época, passei a freqüentar centros de umbanda, que descobri como algo a se considerar e que me trazia algum benefício. Me impressionou a “energia” contida dentro desses rituais...
Passada a fase da umbanda, vaguei a esmo à procura de algo, mas sempre sem me firmar em nada... Cheguei a ir a centros espíritas, um mosteiro zen budista (o zen budismo me impressionou pela disciplina interior e por sua busca tenaz pelo auto-aperfeiçoamento), simpatizei (e simpatizo) com teorias reencarnacionistas, tentei entender mais o animismo, o xamanismo e por aí vai... Nessa fase acabei me aproximando do Santo Daime, onde tive experiências indescritíveis; para uns foram experiências espirituais, para outros foram delírios bioquímicos; para mim mesmo, quem sabe, um pouco dos dois...
Dessa trajetória toda, o que pude tirar é que não sou afeito a me tornar um praticante regular de coisa nenhuma... Prefiro “ser livre para voar”...
Minha concepção de Deus, fruto dessa epopéia espiritual, é muito particular e está, é claro, a anos-luz de distância da forma antropomórfica clássica, vigente nas grandes doutrinas religiosas instituídas...
Percebo muito mais a Deus quando considero, por exemplo, o nível molecular, o interior das células, as particularidades metabólicas (sou biólogo), do que ao ler a bíblia ou outra literatura religiosa qualquer... Deus para mim, não pode estar separado da razão, do senso crítico, da reflexão íntima. Dogmas não me apetecem; eles, para mim, funcionam mais como instrumentos de dominação e ferramentas doutrinárias nas mãos de pessoas (ou instituições) nem sempre bem-intencionadas. Eu acho que a busca espiritual deve ficar longe de qualquer fé cega...
A concepção deísta é antiga em mim, embora eu não a tivesse elaborado em termos finais. Ao ler sobre deísmo, o que tenho feito bastante em tempos recentes, sempre tenho a sensação de estar lendo sobre aquilo que, há muito, está disperso e não-sistematizado dentro da minha mente. É como se essas coisas tivessem sido escritas por mim mesmo! Hoje em dia, me classificaria, em termos espirituais, como um agnóstico deísta, afeiçoado à idéia de reencarnação e ciente de que existe um plano espiritual, do qual não conheço quase nada...
É claro que ainda há muito do cristianismo em mim! Meus princípios morais, minha forma de reverenciar a Deus, minha prática espiritual são, essencialmente, cristãs. Não poderia ser de outra forma, dado que sou “bombardeado” com isso desde a tenra idade... Mas, felizmente, sou espiritualmente livre e minha “imagem de Deus” foi construída por mim mesmo e não por padres, pastores, evangelistas, catequistas, etc.
Acho que o Deísmo tem o potencial para, finalmente, dar o nó, fazer a conexão, interligar definitivamente a ciência e a religião; e se tal junção for feita, o futuro da humanidade será muito promissor! Novos tempos virão e o homem poderá, sem dúvida, atingir um novo plano.
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